quinta-feira, 12 de junho de 2008

Os amantes

(rene-magritte-os amantes)

Não sabia, ao certo por que, conferiu os papeis que lotavam a mala, o travesseiro trazido para garantir um sono tranqüilo, olhou para ela pela última vez, fechou o zíper e se foi assustado com tudo que havia acontecido. Nunca se sentira assim, tomado completamente.

Perdera o raciocínio, as rédeas de sua vida. Um turbilhão de emoções o atormentava.

Como não conhecia o amor, apavorou-se. Que estranha emoção sentia, pela primeira vez em sua vida largara tudo. Seu trabalho, sua família, sua rotina, seus amigos.

Até então sempre soube o que fazer, como fazer e quando fazer.

Não conseguia mais.

Por uma voz, depois um bom papo, conversas longas, amaram-se por telefone. Uma, duas, três, mil vezes.

O primeiro olhar, no aeroporto, trocado entre tantos outros olhares e sabiam quem eram.

Foi neste momento que ele percebeu o quanto precisava dela. Todos os cinco sentidos levados ao extremo.

Viagens esporádicas.

Paixão intensa.

Ela entregou-se totalmente, de corpo e alma.

Riram juntos, trocaram bilhetes por malote.

Bilhetes e cartas não podem ser deletados.

Ninguém consegue rasgar uma prova de amor. E ela não rasgou.

Hoje ainda lê cada um deles, cada carta.

Ela tem a certeza do amor, afinal não nascem crianças lindas e perfeitas de uma relação vazia.

E ele?

Continua com medo do amor verdadeiro.

4 comentários:

Anne M. Moor disse...

Aiiiiiiiiiiiiii Suzana...
E como tem disso... Medo de amar e se deixar amar. Medo de se deixar ser feliz. Enfim, medo de viver... Já desisti de tentar entender isso...
Beijos

Suzana disse...

Eu também! kkk

Madalena disse...

Suzana, como isso é frequenne, sobretudo nestes temposs! :)

Excelente ideia. Bem desenvolvida.
bjs

Maria disse...

Suzana, sao mil as histórias de amor ao medo, narrativas paralizantes em contos sem fim.